quinta-feira, 19 de abril de 2007

infelicidade?

O que é infelicidade?

A humanidade se pergunta: como encontrar a felicidade? O que é felicidade? Somos felizes ou não? Será que conseguiremos, um dia alcançar a tal felicidade?

Para estes questionamentos não faltam teorias, contos, poesias, letras de música e estudos científicos. Uns acreditam que a felicidade é a liberação de serotonina no organismo, outros acreditam que é ter tudo aquilo que se quer. A versão mais politicamente correta e pós-moderna da felicidade diz que a felicidade é ser. Ser um bom homem, ser um bom trabalhador, ser bom pai, marido, filho, amigo. A felicidade é soma, uma eterna conta de adição.

Diante da constatação de que a felicidade é algo que todos procuram, mas só encontram em pequenos instantes, como cansam de dizer os poetas de botequim, o que é então o resto da vida? A infelicidade?

Partindo-se do pressuposto que a felicidade acontece em instantes específicos podemos pensar que no tempo em que não estamos/nos sentimos felizes há a ausência de felicidade logo, a não felicidade. No latin, o prefixo in representa a negação sendo assim, nos momentos em que não estamos felizes quem reina mesmo é a infelicidade? E aí a pergunta que soa é: Se na maior parte do tempo não há felicidade, que mal há em ser infeliz? O que define a infelicidade? A tristeza? A frustração? A falta de sentido nas coisas? A rotina? Os parâmetros sociais que nos impedem de realizarmos nossa própria e instantânea felicidade?

Como nos sabemos infelizes? Por vezes, em algumas situações as pessoas nos dizem: “Não ligue pra isso. Você estava infeliz mesmo” ou então “Coitado, estava tão infeliz, sofrendo tanto, era melhor mesmo que terminasse”. Oras, quem disse isso? Por que as pessoas não podem estar satisfeitas em suas próprias infelicidades?

A sociedade rotula as pessoas ‘satisfeitas com a infelicidade’ de acomodadas. Segundo nossos padrões ser acomodado é não ter ímpeto de mudança, satisfazer-se com pouco. Será mesmo que é esse o sentido que devemos adotar para o estatus de acomodação? Talvez a acomodação esteja muito mais ligada à adaptação – a capacidade que o indivíduo tem de aceitar e se adaptar, sem se ferir, às situações que lhes são expostas – do que à falta de iniciativa, o estado blasé, dos típicos socialmente acomodados.

Cada um deve encontrar um entendimento particular do que é a felicidade para si. Falar sobre as mazelas do mundo e das pessoas é natural entre os seres que se relacionam, mas exaltar os momentos de felicidade, não. Ou seja, se apenas o que for sabido pelos outros forem coisas ruins e críticas, automaticamente todo o resto de uma situação, relação, ação ou intenção torna-se ruim, infeliz. Grande injustiça. Os porquês de não exaltarmos nossa felicidade são parte de outro assunto, mas a repulsa à ‘infelicidade’, a não aceitação da rotina, dos defeitos, das carências, das dores e sofrimentos é realmente preocupante.

Talvez o que devamos pensar é: o que realmente nos causa transtorno, incômodo? O que nos move para mudar uma situação desagradável? O que nos desperta o instinto de autoproteção? O que nos faz superar nossos medos e traumas? Talvez isso seja a real infelicidade. O motivo e o instante em que você se dá conta de que as coisas não estão boas. O ímpeto natural de transformar algo ruim em algo bom porque o algo ‘ruim’ fere.

Resta encontrar o caminho único de descobrir a real infelicidade dentro de nós. E exaltar, mais declaradamente, para nós mesmos, a beleza, a riqueza e dificuldade que é viver.

2 comentários:

Mandy disse...

baby, o problema q o que nos move para a mudança é justamente o transtorno... acho que não existe "felicidade" ou "infelicidade". O problema é que às vezes aquela situação imaginária que sustentamos é simplesmente rompida pelo... Real.

Anônimo disse...

O homem mais feliz não tinha camisa. Mais do que uma relação estritamente material, felicidade parece guardar pouca correlação com a vida prática. Há pessoas que se dizem felizes mesmo sendo miseráveis ou doentes ou solitárias. E quando presenciamos essas manifestações de felicidade a despeito de todas as agruras, isso nos atinge com um soco no estômago do nosso ego e normalmente nos sentimos menores. É claro que nós acabrunhados mortais sempre achamos que seríamos muito mais felizes SE... e a lista aqui pode não ter fim... uma eterna insatisfação, uma busca desenfreada de não se sabe o quê: qualquer coisa que me afaste dessa minha atual realidade, desse meu momento presente, que complete o meu vazio interior. Mas parece que felicidade tem mais a ver com um estado de alma atemporal, uma sensação de apaziguamento a despeito de qualquer coisa, uma forma toda pessoal de enxergar a própria realidade, não a que ainda está por vir.
E o que é a infelicidade então? Acho que infelicidade tem mais a ver com uma sensação de insatisfação, de vazio, de falta. É como uma placa de contra-mão ou de rua sem saída e aquela voz muito interior que nos diz irritantemente ao travesseiro que aquele caminho está em desacordo com a sua forma toda especial de se sentir feliz.
E aqui mora o perigo. Se por um lado essa sensação de insatisfação possa ser um ótimo estímulo para nos movermos em busca de uma outra realidade mais condizente com nosso estado interior, por outro, se desequilibrada, se tornada o fim e não o meio, pode justamente nos afastar daquilo que mais buscamos, só contribuindo para aumentar nossa angústia e sofrimento.
Por fim, numa forma mais poética, citando Herman Hesse, “a felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito. Mas amar e desejar não é a mesma coisa. O amor é o desejo que atingiu a sabedoria. O amor não quer possuir. O amor quer somente amar."