quarta-feira, 23 de abril de 2008

nós dois

Está chegando o momento
De irmos pro altar
Nós dois
Mas antes da cerimônia
Devemos pensar em depois
Terminam nossas aventuras
Chega de tanta procura
Nenhum de nós deve ter
Mais alguma ilusão

Devemos trocar idéias
E mudarmos de idéias
Nós dois
E se assim procedermos
Seremos felizes depois
Nada mais nos interessa
Sejamos indiferentes
Só nós dois, apenas dois,
Eternamente.

Composição: Cartola

atribulação

Há quase 1 mês nenhum post.
Há quase 1 mês novas descobertas. Outras decisões, novos momentos, medos e felicidades.
Logo a inspiração volta, será que não?

segunda-feira, 24 de março de 2008

cimento

Ações de cimento molhado, que já não precisam de água vertendo para formar a massa.
Os líquidos acumulados de outras ocasiões parecem suficientes para criar uma outra, mais dura, realidade.
Sem comoções, poréns e mais ou menos.
Será definitivo?

quarta-feira, 12 de março de 2008

cansaço

Será que eu preciso pedir de joelhos e com vick vaporub, prá chorar, prá poder tirar umas merecidas férias?
Apelo público.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

colar de contas

Hoje, lendo o Dipirona Sódica, resolvi entrar no link de um outro - novo - blog, que está na lista. Vale ler o texto do Colar de Contas sobre a intimidade de casa e botão.

pertencimento

Será a ele? Ester ser desconhecidamente meu?
Humano e sagrado, repleto de significados construídos.
Intimidades, beijos, carícias e palavras.
Olhares contempladores de uma realidade dupla, escolhida por cada um.
Alguns sonhos vividos e outros tantos a realizar,
apenas com a certeza do que é eterno enquanto dura.
Assim, abraçados de paixões e dúvidas, nos desbloqueamos.
Criamos uma outra vida nossa de eternidades
Um bem-estar constante escolhido entre palavras, silêncios, corpos suados e suspiros.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

emanação

Onde ela está?
Faz algum tempo que partiu desse universo.
Foi-se embora para algum canto levando suas coisas. Deixou apenas alguns poucos objetos que, vez ou outra, nos remetem à seu contorno.

Brincos, um tênis velho, algumas sapatilhas, saias rodadas, colares e uma porção de fivelas coloridas. Livros, sua agenda da escola – sempre cheia de poesia – recortes de revistas com entrevistas dos seus, poucos, ídolos. Chico, Henfil, Paulinho da Viola, Maria Bethânia. Textos guardados em pastas escolares; aquelas da 7ª C.

Dentro de uma caixa, centenas de cartas, bilhetes e lembranças das amigas - aquelas que ela pensava, estariam para sempre em sua vida. Por onde será que andam?

No fundo de uma latinha a foto-montagem daquele grande amor. Uma lembrança que para ela, em outros tempos, foi muito dolorida. Imagino que hoje - se é que ela se lembra - deve render ao menos um sorriso nostálgico.

Hoje, quem sabe onde ela estará? Talvez mantenha-se intacta de essência. Talvez tenha decidido fugir de si mesma. Ou pode então estar vagando por algum caminho qualquer, tentando descobrir sua própria trilha.

Sentimos apenas saudades e a vontade de que ela volte logo, de algum modo.

ser e estar

Chega de pensar, chorar, sofrer, se revoltar.
A hora é de executar
Aqueles sonhos imaginados no distante dos anos anteriores.
Encorajar-se e lançar mão de medos, suspeitas e sentidos.

Apenas fazer, para ser, acontecer e viver.

Hora de realizar e criar um novo hemisfério
Quebrando paradigmas incrustrados de frustações, expectativas e pressão.
Vendo e vivendo o mundo com outros olhos, mãos, bocas e pés.

Caminhando por texturas diferentes, (re) criadas daquelas que já se fizeram ultrapassadas.
Acelerar o andar e abrir os olhos, gerando um novo estar.

Estar bem, viver bem, pensar bem.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

evocação

Para abrir o ano com chave de ouro, um texto do Ivan Angelo. Uma das – poucas – boas coisas que a Veja pode nos oferecer.

EVOCAÇÃO

Onde está aquele menino? Evocação é mais do que memória, pouca coisa mais. Acrescenta à lembrança um sentimento de simpatia que transborda para o rosto; a atenção se ausenta, os olhos já não fixam o presente, os ouvidos se fecham. A pequena fuga para o passado faz brotar a pergunta: onde está? Muitas vezes é a nós mesmos que buscamos. Onde está, em que espelho da memória se fixou a imagem daquele menino magro, testando o físico em pose de halterofilista?

Onde está aquela menina que não o beijava, só a ele não beijava, mas que o olhava provocadora durante algum beijo?

Onde estão aqueles gibis, que ele guardava numa caixa debaixo da cama? Mandrake fazia um gesto hipnótico e o revólver do bandido virava uma flor, um adolescente gritava shazam e tornava-se o poderoso Capitão Marvel, Brucutu viajava no tempo para lá e para cá, Flash Gordon viajava por outros mundos – e o menino com eles.

E aquele livro, Uma História e Depois Outras..., com seu menino-herói, Pascoal-zinho, incorruptível, capaz de agüentar calado injustiças, intrigas, à espera de que a verdade prevalecesse – onde está? Na cabeça dos meninos do 1º grau, o pequeno herói convivia com Orfeu, Hércules ou Batman, num tempo em que os autores das histórias ainda não tinham importância, só contava a beleza dos feitos.

Onde está aquele time de futebol de botão? Ah, quantas vitórias, jogadas espetaculares... Em qual caixinha, em qual das casas onde ele morou ele teria ficado, em que mãos? E aqueles outros jogadores, os de verdade, heróis dos campos de futebol, que todos os meninos conheciam pelo nome, do goleiro ao ponta-esquerda, fiéis ao time —– onde estão?

Evocação não traz nada ruim, é um passeio por alguma coisa que acabou sem nos ter sido tirada. É diferente do sentimento de perda, que causa sofrimento; diferente da saudade, que traz tristeza. É uma conversa afetuosa com o que foi.

Aquela cidade perfumada por magnólias, por exemplo. Gostoso lembrar seu aroma no frescor da noite, e transportar-se até lá. Um ano bom que passou – não qualquer um, mas aquele. Um amorzinho bom. Umas comidas, uns lugares.

Onde estão as neves d’antanho, où sont les neiges d’antan, como perguntava há mais de 500 anos o poeta François Villon? Onde estão os poetas que nos diziam nossas verdades e os ficcionistas que inventavam nossas mentiras?

Onde está o pecado? Não existe mais, vale tudo?

Onde está aquele secreto hotelzinho na Praia de Iporanga, no caminho de Bertioga, a única construção que havia naquela baixada, só três quartos, sem telefone, sem luz elétrica, iluminada a lampião, na qual vivia o dono quase como um ermitão, e onde a única concessão era uma fantástica geladeira a gás?

E aquele cão, onde está, aquele divertido cão que gostava de ver a telenovela Pecado Capital, bastava ouvir a música-tema e ele se aboletava no sofá? Por falar nisso, era gostoso cantarolar a música da corujinha junto com as crianças ("Já é hora de dormir, não espere mamãe mandar"), dar um beijinho enroscado nelas e mandá-las para a cama. A televisão ajudava a pôr ordem no fim do dia.

Mais um ano se foi. Que terá deixado na vida pessoal de cada um, criança, adulto ou idoso, para ser evocado com um sorriso nos lábios numa dessas fugas da realidade que nos realimentam de otimismo?

Não ter mais a coisa não significa que ela faz falta, significa apenas que acabou. Um doce: ficou o prazer de tê-lo desfrutado, seu sabor permanece conosco. Como se alguém dissesse num fim de tarde em uma varanda: lembra-se? O cérebro passa o filme, mas não exclui a varanda e a tarde. Evocação é estar lá, sem sair daqui.

texto: Ivan Angelo